domingo, 5 de outubro de 2008

Reflexão

O contacto permanente com crianças oriundas de estruturas familiares diversificadas é, para qualquer professor, motivo de reflexão. Numa das minhas leituras on line encontrei um artigo de um psicólogo brasileiro que achei por bem divulgar, com alguma adaptação de linguagem, neste meu espaço.

Uma família infeliz é aquela que permite que outros elementos preencham espaços no lugar do prazer da troca entre os seus membros". - ANTÓNIO CARLOS, psicólogo.

Existem, infelizmente, muitos pais cuja maior preocupação é o bem estar material dos seus filhos. Apesar de isso ser necessário, esses pais não se preocupam com outros tipos de herança, como por exemplo, o aspecto pessoal e afectivo dos seus filhos. Embora isso seja um facto óbvio, o impacto pessoal desse tipo de atitude é desastroso para o desenvolvimento harmonioso e equilibrado da criança ou do adolescente.
Aquele pai ou mãe que não possui muito tempo para o seu filho, acaba tentando compensá-lo através de presentes ou recompensas materiais. O problema, no entanto, é muito mais profundo, pois nunca se trata de uma questão quantitativa, mas sim qualitativa.
A compensação material por parte dos pais, nada mais é do que um embuste, para que os mesmos escondam sua própria dificuldade de passar afecto, a sua falta suprema de treino amoroso.
Qualquer processo educativo que valorize principalmente o poder, status e sucesso, criará filhos que carregarão imensa soma de ansiedade e insegurança, sendo que darão prioridade apenas ao aspecto material, tratando os pais como instituições financeiras que lhes comprarão objectos da admiração e inveja dos seus colegas, tentando compensar a sua frustração secreta de não poderem ser autênticos no círculo familiar. Os pais deveriam ter em mente o preço que todos arcarão quando o aspecto afectivo não for a prioridade. O treino, vivência e realidade afectiva que não obtivermos no círculo familiar, custará enorme soma de energia e tempo para podermos reconstruí-los em outras esferas, isso se a pessoa estiver motivada e disposta. (...)
Problemas escolares, retraimento, agressividade e até mesmo o desejo de não crescer expresso no urinar na cama ou no dormir no quarto dos pais passam a ser a tónica, sendo que não faltam desculpas e artimanhas por parte da criança a fim de justificar seu comportamento anti-social.
(...) Concluímos que a maioria do processo psíquico infelizmente é influenciado desde a tenra infância por factores de status, posse e poder, e todos os pais que almejam um futuro de estabilidade emocional para seus filhos, deverão reflectir profundamente sobre tão sérios problemas.
Parafraseando Lou Micaldas:
«Os pais de antigamente satisfaziam os filhos levando-os de autocarro para brincar no coreto de uma pracinha, onde nem brinquedos havia. E era uma alegria!
Os pais de hoje não sabem mais o que comprar e o que fazer para saciar a ambição desmedida dessas crianças, que buscam nos bens materiais a compensação da carência afectiva tão em falta nos lares, onde ninguém tem tempo».
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1 comentário:

MGomes disse...

É sem quaisquer dúvidas uma das grandes frentes com que os pais de hoje se debatem na educação dos seus filhos! Hoje, muitas bitolas de avaliação, são aferidas mais pelas aparências do que pela substância, e é com alguma frequência que nos são "vendidas" todos os dias e a qualquer hora receitas milagrosas dos que triunfam facilmente nesta sociedade cada vez mais divorciada da qualidade e da assunção dos valores em desprimor do instantâneo e da moda ! Não é difícil encontramos num qualquer Centro Comercial do nosso país, mães com filhas pela mão, esperando em filas indeterminadas pela sua vez, na esperança que as suas pequenitas sejam as escolhidas a entrar numa qualquer revista de roupa jovem, ou então, pais a lotarem por completo as inscrições nas escolas de iniciação de futebol, na fé de que os seus filhos com pouco mais de 6 anos, possam ser um dia "Cristianos Ronaldos"! Quem disse a estes pais que é este o caminho certo para o futuro dos seus filhos? De facto eles perante um mar de incertezas que a sociedade lhes oferece, apenas procuram o que acham ser o melhor para os seus filhos, pouco importa o preço e o risco psicológico a que as crianças são sujeitas derivado de patamares de selectividade tremendamente exigentes.
Perante esta sociedade dramaticamente afunilada num dos seus problemas socias mais agudos e cruciais que é o emprego, possivelmente não sobra grande margem de manobra a estes pais que constituem certas franjas da nossa sociedade para sequer pensarem em valores! Que tempo têm para se dedicarem aos filhos, quando trabalham mais tempo que os seu avós e que só os vêm no fim de semana?
A resposta a um caminho certo terá de passar inevitávelmente pela família, mas se não houver vontade politica de quem gere a sociedade de modo a inverter esta dramática situação, muito dificilmente o futuro será constituído por homens e mulheres que façam dos valores morais a bandeira da vida! De facto a materialização inconsistente desses valores retirou-lhes a importância afectiva que em tempos existia nas mais variadas vertentes de relacionamento humano..., em última análise cabe sempre a nós rumar no sentido certo!

Bjo